segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Vale do Ribeira


Patrimônio natural, socioambiental e cultural da humanidade, título conferido em 1999 pela Unesco, o Vale do Ribeira localiza-se entre os estados de São Paulo e Paraná. Bioma considerado um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas em termos de diversidade biológica do Planeta, a Mata Atlântica hoje está reduzida a 7% de sua área original, ou a aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Desse total, 23% se situam no Vale do Ribeira com seus 2,1 milhão de hectares de florestas, 150 mil de restingas, 17 mil de manguezais e 200 km de uma costa recortada por um conjunto de praias, estuários e ilhas. Todas essas áreas estão extremamente bem preservadas, incluindo o mais conservado banco genético das regiões Nordeste, Sudeste e Sul e a mais importante reserva de água doce dos dois estados.

 Economia e Baixo IDH

A agricultura continua sendo a principal atividade econômica e fonte de renda da população do vale.  Os principais produtos comercializados pelos pescadores são o camarão e a ostra, além de crustáceos e pescados. As culturas mais presentes nas lavouras do vale, por sua vez, são a banana e o chá preto, que ocupam áreas mais extensas e têm maior relevância do ponto de vista comercial. Atividades de pecuária também são registradas em algumas localidades. A banana, por exemplo, é cultivada em quase todos os municípios, por grandes e pequenos produtores

O Vale do Ribeira apresenta os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) dos estados de São Paulo e Paraná, incluindo os mais altos índices de mortalidade infantil e de analfabetismo.
A população local também não possui alternativas econômicas adequadas ao desenvolvimento sustentável da região. Esse quadro é agravado por sua proximidade de dois importantes centros urbanos e industriais – São Paulo e Curitiba – e ainda por recentes investimentos em obras de infra-estrutura, tais como: a duplicação da Rodovia Regis Bittencourt (BR-116); as propostas de construção de usinas hidrelétricas no rio Ribeira de Iguape e as propostas de transposição de bacias a fim de desviar água da região para São Paulo e Curitiba.
Tudo isso ameaça transformar o Vale do Ribeira em fornecedor de recursos naturais de baixo custo, explorados sem qualquer respeito ao patrimônio ambiental e cultural e sem geração de benefícios para a população residente.

Ficha Técnica do Vale do Ribeira


Localização: entre as regiões sul do estado de São Paulo e norte do estado do Paraná abrangendo a Bacia Hidrográfica do rio Ribeira de Iguape e o Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá.

Área: 2.830.666 hectares

População: 481.224 habitantes (Censo do IBGE/2000).

Número de municípios: 31 (9 paranaenses e 22 paulistas). Existem ainda outros 21 municípios no Paraná e 18 em São Paulo que estão parcialmente inseridos na Bacia Hidrográfica do Ribeira.

População na área rural: 37,58% da população total.

Principal atividade econômica: agricultura da banana e do chá preto e pesca.
 
 

Quilombos


Não é só da grande riqueza ambiental (Mata Atlântica preservada, cavernas e cachoeiras) que torna o Vale do Ribeira, região onde está o PETAR tão especial. Seu patrimônio cultural é igualmente valioso.
Em seu território se encontram o maior número de comunidades remanescentes de quilombos de todo o estado de São Paulo, comunidades caiçaras, índios Guarani, pescadores tradicionais e pequenos produtores rurais.

Quilombo é sinônimo de luta pela terra e liberdade, e desta luta que começou há mais de trezentos anos surgiram as comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. Comunidades que sobreviveram até hoje na contracorrente da concentração fundiária e da devastação da Mata Atlântica.

Hoje os quilombolas são exemplos de convívio entre populações humanas e a Mata Atlântica e atores importantes em projetos de desenvolvimento sustentável. Em alguns dos quilombos são desenvolvidos projetos de agro floresta e de Educação Ambiental, um exemplo é o Quilombo do Ivaporunduva que possuí estrutura para receber escolas.
O Quilombo do Ivaporunduva: esta localizado no Município de Eldorado São Paulo, na SP 165, Eldorado/Iporanga, às margens do Rio Ribeira de Iguape. Composta por 80 famílias, a Comunidade de Ivaporunduva tem uma população de 308 pessoas, sendo 80 crianças, 195 adultos e 33 idosos.

No quilombo são desenvolvido algumas atividades como:Produção e comercialização de bananas orgânicas, Artesanato de palha de bananeira, Viveiro (palmito juçara) e Turismo.


A história do Petar

Segundo os antropólogos, a história de ocupação da região do PETAR a data é de cerca de 10.000 anos atrás. A comprovação vem da descoberta de sambaquis fluviais, além de sítios ceramistas mais recentes, datados de 2.000 anos. Vestígios de uma tradição caçadora coletora, passando posteriormente a cultivadora evidenciam que esta região esteve incluída na rota migratória das populações indígenas pré-coloniais.
Os primeiros pontos de povoamento da época colonial no Alto Ribeira organizaram-se no final do século XVII, início do século XVIII, com o surgimento das Bandeiras e de desbravadores à procura de ouro. A maior parte da população atual descende de quilombos, que também haviam nesta região.
A história do PETAR tem um histórico bem parecido com colonização da região.
No entanto, os objetivos de conservação da área datam já do início do século XIX, através da visita de naturalistas à região.
De lá para cá, sua implantação vem sendo feita de forma lenta e gradativa através do impedimento de atividades degradadoras do meio ambiente como: extração de madeiras, mineração, desmatamentos, extrativismo ilegal, caça, grilagem de terras entre outros.
 Através de financiamento externo com o Banco Mundial, o PETAR implantou infra-estrutura adequada a sua administração, fiscalização e à recente demanda das Áreas Naturais para o ecoturismo.

PETAR - Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira


 Localizado no sul do Estado de SP, entre as cidades de Apiaí e Iporanga, está o PETAR. Próximo aos contrafortes escarpados da Serra do Mar conhecida como Serra de Paranapiacaba, na bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape. Conjuntamente com os Parques Estaduais de Intervales, Carlos Botelho e Estação Ecológica de Xitué. Essa região é a segunda maior área protegida e a mais preservada do Estado de São Paulo. Fica perto de outras cidades como Registro e de outros grandes parques, como o Parque Estadual da Ilha do Cardoso (Cananéia) e o Parque Estadual de Jacupiranga (Eldorado). Há duas formas de acesso, principamente para quem sai da cidade de São Paulo. Uma seguindo pela Rodovia Régis Bittencourt e outra, pela Castelo Branco ou Raposo Tavares. O caminho mais utilizado pelos turistas é o da Régis Bitencourt. Hoje somente um trecho de 50 Km não encontra-se duplicado (sentido SP - Curitiba). O trecho após a cidade de Jacupiranga, até Iporanga, é de mão única. Todo cuidado e atenção deve ser tomado, pois em alguns pontos há buracos e animais na pista. Porém, o visual do Rio Ribeira de Iguape que lhe acompanhará durante todo o percurso é exuberante, requer algumas paradas estratégicas para contemplação e fotografias. Se for hospedar-se no Bairro da Serra ou dirigir-se até os Núcleos de Santana e Ouro Grosso, irá encontrar cerca de 16 Km de estrada de terra bem conservada, partindo da cidade de Iporanga. O PETAR está localizado a cerca de 320 km de São Paulo.

Latitudes entre 24° 16´ e 24°38´ S
Longitudes entre 48°29´ e 48°43´ W

O Parque Estadual Turístico do Alto Ribeiro tem mais de 300 cavernas, dezenas de cachoeiras, trilhas, comunidades tradicionais e quilombolas, sítios arqueológicos, paleontológicos... É realmente um verdadeiro paraíso escondido entre vales e montanhas e na maior porção de Mata Atlântica preservada do Brasil.


Formação das cavernas do Petar

Caverna Morro Preto - PETAR
                                     
Há milênios as cavernas encantam o homem. No início dos tempos as cavernas eram usadas como abrigo, nelas foram deixadas restos de fogueiras, de alimentos, ossos e pinturas que nos permitem conhecer a vida e os hábitos de nossos ancestrais.
   Sejam em pinturas rupestres, animais exóticos, depósitos minerais ou acidentes geográficos, os ambientes cavernícolas preservaram momentos de nossa história, neles criou-se um novo mundo a ser descoberto
   As maiores e mais belas cavernas são formadas em rochas solúveis, especialmente carbonáticas, como os calcários, formados principalmente de carbonato de cálcio (CaCO3). Os calcários são rochas sedimentares que se depositaram no fundo dos mares há mais de 500 milhões de anos, num processo lento foram depositados em camadas separadas por planos de acamamento, em graus diferentes de pureza e, às vezes, intercalados com argila.
   Existem cavernas em outros tipos de rochas, como quartzitos, arenitos e granitos, mas que não são tão atraentes quanto às calcárias. As rochas sofreram a ação de altas pressões e temperaturas e se recristalizaram em calcário metamórfico. Movimentos tectônicos as fizeram emergir do fundo dos mares e se tornarem montanhas e erosões; Corrosões modelaram o relevo.
     As cavernas se originam, basicamente, da ação e circulação da água sobre as rochas, através de reações químicas de corrosão e da erosão.
     No Petar as cavernas são classificadas, basicamente, em grutas; Predominantemente horizontais e abismos, normalmente verticais. Elas apresentam, na maioria dos casos, os mais variados tipos de acidentes, como tetos baixos, galerias altas, trechos alagados, desmoronamentos, salões amplos... 

As Reações Químicas e a Formação das Cavernas 

     As cavernas formam-se normalmente em áreas de rochas calcárias, embora na zona costeira possam ocorrer em outros tipos de rochas. As rochas calcárias são formadas por calcita (carbonato de cálcio, CaCO3), que se dissolvem quando entram em contato com a água que contém suficiente teor de ácidos. Estes são provenientes da chuva ácida ou do dióxido de carbono (CO2) existente na atmosfera e na decomposição da matéria orgânica, que em contato com a água formam o ácido carbônico, H2CO3.
    Num segundo momento, a água ácida penetrando pelas fendas do calcário ataca a rocha, produzindo o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2), que é solúvel e facilmente transportado pela água. Com a dissolução do bicarbonato de cálcio, as fendas vão-se alargando lentamente e formando as cavernas.



1- Acidulação da água (formação do ácido carbônico):

H2O
+
                    CO2                  →
H2CO3
água
dióxido
de carbono
ácido carbônico

2- Dissolução da rocha pelo ácido carbônico:

H2CO3
+
          CaCO3          
Ca(HCO3)2
ácido
carbônico
carbonato
de cálcio
bicarbonato
de cálcio


   As águas da chuva, aciduladas pelo gás carbônico da atmosfera e do solo, ao penetrarem pelas fendas da rocha calcária, vão dissolvendo-a e transportando o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2) em solução até emergirem no teto de uma caverna pré-existente.
   A gota dessa solução aquosa fica pendurada no teto até que atinja volume e peso suficiente para cair. Nesse período ocorre a liberação do gás carbônico (CO2) e, como conseqüência, ocorre a precipitação de parte do bicarbonato dissolvido. Formam-se assim os primeiros cristais de carbonato de cálcio (CaCO3), que vão dar origem à estalactite.
   A gota, ao cair, ainda carrega consigo bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2) em solução, o qual vai sendo depositado no piso logo abaixo, formando uma estalagmite. O crescimento oposto da estalactite e da estalagmite faz com que essas peças muitas vezes se unam, dando origem à colunas.



3- Precipitação do carbonato de cálcio:




Ca(HCO3)2
                 →
CaCO3
+
H2O
+
CO2 
Bicarbonato
de cálcio
Carbonato
de cálcio
Água
Dióxido
de carbono

Estalactites e Estalagmites


Estalactites são formações rochosas sedimentares que se originam no teto de uma gruta ou caverna, crescendo para baixo, em direção ao chão da gruta ou caverna, pela deposição (precipitação) de carbonato de cálcio arrastado pela água que goteja do teto. Apresentam frequentemente uma forma tubular ou cónica.


Estalagmites são formações que crescem a partir do chão de uma gruta ou caverna em direção ao teto, formadas pela deposição (precipitação) de carbonato de cálcio arrastado pela água que goteja do teto.
               
         












sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Fauna e a Flora do Petar

A Fauna

O Petar é favorecido pela conservação das áreas ao redor, o que o possibilita ter uma mata íntegra, e também muito rica e de grande extensão. A fauna é típica de mata atlântica e também cavernas. Podemos encontrar muitos animais, como por exemplo a onça pintada, o gavião-real, o mono-carvoeiro ou muriqui, a ave maria-leque, tucanos, pica-pau, beija-flor, sairas, corujas, o gavião-do-penacho, o papagaio-de-peito-roxo,  o cágado, a lontra, cachorro-do-mato, gambá, cuíca-d’água ... e por causa das cavernas também temos o chamado piolho-de-cobra, besouros, o falso escorpião, o bagre-cego, morcegos, o grilo cavernícola entre muitos outros aracnídeos, insetos, crustáceos, peixes... Enfim, o Petar possui uma fauna muito rica e diversificada, que vale MUITO a pena ser conservada. 

  Tucano do bico verde
    
      
Cuíca

Gavião Real


 Ave Maria Leque

Saira

Cágado

Onça pintada

Muriqui



A Flora

O Petar abriga uma rica reserva de Mata Atlântica, com clima tropical e subtropical húmido (nas regiões de mais altitude como Bocaiuva do Sul, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná)    e é marcado por vales os quais são revestidos de árvores como, por exemplo, a canela-amarela, a bicuíba, o jacarandá-ferro, que podem chegar a 30 metros de altura aproximadamente. Mas muitas outras vegetações também podem ser encontradas como cedros, canelas, jatobás, figueiras, bromélias, orquídeas, o palmito-jussara. Além disso, o Petar possui o maior número de cavernas do país, e a maior entrada de caverna do mundo (caverna Casa de Pedra, com 215m de altura). “É um show à parte” como diz o ditado.



Bromélia
 
Orquídea
  
Palmito jussara
 
Cedro
 
Canela-amarela

O Vale do Ribeira e a construção de barragens

É evidente a riqueza do Petar e de todo o Vale do Ribeira. No entanto, algo tem gerado preocupações: a construção de barragens hidrelétricas no rio Ribeira de Iguape, que resultaria na inundação total de algumas áreas. Será que vale à pena afogar toda essa fauna, flora, sustento das famílias agricultoras, quilombolas, indígenas dessa parte do Ribeira, mudar o clima dessa região? É preciso uma preocupação ambiental mínima para perceber que não. "Querem afogar a cultura" como dizia um dos cartazes de uma das manifestações dos moradores do Vale.